Acordou cedo.
Foi ao banheiro, olhou-se no espelho, esfregou os olhos, lavou o rosto, coçou a barba e voltou pra cama.
Sentou na cama desarrumada, pôs os pés sobre as pantufas, pegou uma folha em branco e uma caneta.
"Hoje vou começar a corrigir minha vida", pensou. Escreveu bem grande no topo da folha:
COISAS A FAZER PARA MELHORAR MINHA VIDA
Escreveu o primeiro item, bocejou e voltou pra cama.
A folha caiu suavemente no chão no meio do quarto.
O primeiro item?
"Dormir mais".
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Desde que tinha se mudado para a casa nova, seu quarto era metade escuro e metade claro. A culpa era da janela, que apesar de grande, só abria de um lado. O outro lado, meio enferrujado talvez, ou mal feito mesmo, abria até a metade, rangia, grunhia, e não abria mais. Mas ele não se importava.
Considerava aquela janela semi-aberta como um sinal de que devia ver a vida diferente. Lembrou-se de Odin, patriarca da mitologia nórdica, que na ânsia pelo conhecimento total olhou para o Poço da Sabedoria. Sabendo que poderia ficar cego se fizesse aquilo, Odin tapou um olho e sacrificou o outro.
(Lembrava-se da história assim. Ou pelo menos havia aprendido nos Cavaleiros do Zodíaco assim)
Assim, Odin ganhou a sabedoria plena, mas nunca enxergaria o mundo de forma completa com ela. Considerava então aquela janela semi-aberta um aviso: por mais belo que seja o mundo que você enxerga da sua janela aberta, há sempre algo que você não poderá ver, no lado que você não conseguirá abrir.
Viveu a partir dali a vida de forma plena, aproveitando sua sapiência recém-adquirida, julgando a tudo e a todos sempre observando os dois lados da moeda e nunca deixando seus preconceitos avaliarem uma situação de forma errônea e apressada. Viveu assim até o dia em que aconteceu uma tragédia...
Seu pai consertou a janela.
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Escreva
Tire de você e jogue numa folha, numa tela, num arquivo
É uma forma de se auto-medicar
Todo poeta sofre suas letras
Suas rimas, são-lhe lágrimas
Por isso é poesia o que do mais se destaca
A arte, nasce dos sentimentos...
O resto, é só técnica
E técnica
É poesia de máquina
É poesia de máquina
(autoria do chefe, confessionada via MSN)
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Sam curtia o que seu chefe escrevia.